Viena, com seus cafés históricos, é um portal para a alma literária de Stefan Zweig, o escritor que capturou a essência de uma Europa em transformação. Estes espaços, com lustres brilhantes, mesas polidas pelo tempo e janelas que emolduram a cidade, são santuários de elegância, onde Zweig encontrava inspiração para suas obras-primas, imerso na história e na literatura que definiam Viena.
Esta jornada pelos cafés vienenses é um convite para viver a cidade como Zweig, com sua paixão pelas ideias e sua conexão com a cultura. Leve um exemplar de O Mundo de Ontem para acompanhar seus passos.
Zweig, o cronista de um mundo perdido
Stefan Zweig, nascido em 1881 em Viena, foi um dos maiores escritores do século XX, conhecido por entrelaçar história, psicologia e paixão em suas obras. Filho de uma família judaica abastada, cresceu na vibrante capital cultural do Império Austro-Húngaro, onde os cafés eram o epicentro da vida intelectual, reunindo mentes como Freud e Rilke.
Zweig estudou filosofia na Universidade de Viena, mas foram os cafés e suas viagens pela Europa que moldaram sua visão literária. Ele escreveu biografias marcantes, como Maria Antonieta e Erasmo de Roterdã, novelas intensas, como Carta de uma Desconhecida e Xadrez, e memórias comoventes em O Mundo de Ontem, um retrato da Europa antes das guerras. Sua obra, traduzida para mais de 50 línguas, reflete o cosmopolitismo e a crítica à intolerância.
Apesar da fama internacional, Zweig nunca buscou prêmios, embora tenha sido indicado ao Nobel e recebido o Prêmio Baudelaire na França. Com a ascensão do nazismo, fugiu da Áustria em 1934, vivendo exilado em Londres, Nova York e Petrópolis, Brasil, onde se suicidou em 1942, devastado pelo colapso de sua Europa.
Os cafés de Viena, onde passava horas escrevendo e debatendo, eram seu refúgio. Esta viagem é uma chance de sentar onde ele sentou, absorvendo a elegância, a inspiração e a literatura que marcaram sua vida.
Um salão de ideias na Herrengasse
Comece no Café Central, na Herrengasse, um ícone vienense onde Zweig trocava ideias com intelectuais como Trotsky e Schnitzler. O ambiente, com arcos neoclássicos e o som delicado de um piano, exsude elegância. Sente-se perto de uma janela, peça um Einspänner — café com chantilly — e folheie O Mundo de Ontem, deixando a atmosfera inspirar seus pensamentos.
O aroma de strudel de maçã e o murmúrio dos clientes criam um espaço que parece suspenso no tempo, como se Zweig pudesse entrar a qualquer momento. Aproveite e visite a livraria do café, onde Maria Antonieta pode ser encontrada em alemão ou inglês.
O refúgio boêmio da Dorotheergasse
Caminhe até o Café Hawelka, na Dorotheergasse, um espaço simples e acolhedor que Zweig apreciava por sua autenticidade. Com paredes cobertas de pôsteres antigos, o Hawelka é um oásis de inspiração literária. Peça um Melange — café com leite espumoso — e abra Xadrez, sentindo a tensão psicológica da novela.
O cheiro de Buchteln, pãezinhos com geleia, e a luz natural nas mesas de madeira evocam a Viena boêmia. A poucos passos dali, você encontrará a livraria Morawa, onde Carta de uma Desconhecida poderá enriquecer sua jornada.
Elegância intemporal em Gumpendorfer Straße
Continue até o Café Sperl, na Gumpendorfer Straße, um dos mais antigos de Viena, onde Zweig se reunia com amigos. Com sofás de veludo e espelhos dourados, o Sperl reflete a belle époque descrita em O Mundo de Ontem. Peça um Fiaker — café com chantilly e açúcar — e uma torta Sacher, e leia Erasmo de Roterdã, imaginando Zweig debatendo humanismo.
O café, com sua história rica, permanece um oásis de calma. Aproveite a serenidade das manhãs e visite a livraria Babette’s, onde O Jogador de Xadrez poderá estar disponível em várias línguas.
O pulsar cultural da Universitätsring
Siga para o Café Landtmann, na Universitätsring, próximo ao Burgtheater, um espaço que Zweig frequentava por sua conexão com a cultura vienense. Com cortinas pesadas e janelas amplas, o Landtmann exala sofisticação. Peça um Kaiserschmarrn — panqueca fofa com compota — e um chá de ervas, e mergulhe em Maria Stuart, absorvendo a prosa precisa de Zweig.
Explore também a livraria Thalia, onde O Mundo de Ontem é um destaque.
Doçura histórica na Kohlmarkt
Na Kohlmarkt, o Café Demel, uma confeitaria lendária, encantava Zweig com seus doces. Com lustres de cristal e vitrines de bolos, o Demel é um palácio vienense. Peça um Apfelstrudel e um Verlängerter — café diluído —, e leia Coração Inquieto, observando os clientes como personagens de Zweig.
O Demel abre às 8h, ideal para uma visita matinal. A livraria Manz, próxima, oferece biografias de Zweig para aprofundar sua experiência.
O charme discreto da Stubenring
Explore o Café Prückel, na Stubenring, um refúgio menos turístico que Zweig valorizava por sua autenticidade. Com móveis dos anos 1950 e iluminação suave, é um santuário para leitores. Peça um Brauner — café com creme — e uma Linzer Torte, e mergulhe em O Mundo de Ontem, refletindo sobre sua nostalgia.
Após um delicioso café, passe pela livraria Kuppitsch, onde Vinte e Quatro Horas na Vida de uma Mulher está disponível.
Um sussurro final na Ringstrasse
Encerre no Café Schwarzenberg, na Kärntner Ring, o mais antigo da Ringstrasse, com a elegância discreta que Zweig admirava. Escolha uma mesa de canto, peça um Mokka e uma Sachertorte, e leia Xadrez, sentindo sua intensidade. A livraria Shakespeare & Company, nas proximidades, tem edições de Zweig em inglês.
Viena através da pena de Zweig
Para viver Viena como Zweig, planeje sua visita entre setembro e novembro, quando festivais como a Vienna Design Week e a Book Fair animam a cidade. O bonde ou metrô facilita os deslocamentos — um passe diário custa cerca de €8.
Caminhe entre os cafés, absorvendo sua elegância, inspiração e literatura, e sinta a Viena que moldou Zweig. Cada xícara de café é uma porta para o mundo de ontem, um convite para sonhar com sua pena.