Livrarias de Roma amadas por Eco durante feiras literárias

Um passeio pelos labirintos de papel de Umberto Eco

Roma, a Cidade Eterna, é mais do que ruínas antigas e praças vibrantes. Para Umberto Eco (1932–2016), escritor, filósofo, semiólogo e bibliófilo apaixonado, Roma era um mosaico de livrarias que pulsavam com histórias, ideias e segredos.

Nascido em Alexandria, no Piemonte, Eco transformou sua paixão por livros em uma carreira que mesclava erudição acadêmica e narrativas ficcionais, como o icônico O Nome da Rosa (1980), um romance policial medieval que conquistou o mundo. Sua vida foi um constante diálogo com o conhecimento, e Roma, com suas feiras literárias e livrarias históricas, era um palco perfeito para sua mente inquieta.

Este post leva você pelas livrarias romanas que Eco provavelmente frequentava durante feiras literárias, como a Più Libri Più Liberi, conectando esses espaços à sua obra e legado.

A Paixão Bibliófila de Umberto Eco

Eco era um colecionador voraz, com uma biblioteca pessoal de mais de 30 mil volumes em Milão e outros milhares em sua casa de campo em Rimini. Ele não apenas lia livros, mas vivia entre eles, como se fossem extensões de sua própria mente.

Em Roma, durante eventos literários, ele encontrava nas livrarias refúgios para sua bibliofilia, lugares onde o cheiro de papel velho e as conversas sobre semiótica se misturavam ao burburinho das feiras.

Vamos explorar esses espaços reais, suas histórias e como eles ecoam a essência do autor.

A Livraria Feltrinelli: um oásis literário na Piazza Colonna

A poucos passos da Fontana di Trevi, na Via del Corso, a Libreria Feltrinelli é uma das mais emblemáticas de Roma. Durante a Più Libri Più Liberi, feira anual de pequenas editoras realizada no Roma Convention Center La Nuvola, essa livraria se torna um ponto de encontro para intelectuais e leitores.

Eco, que colaborava com a revista L’Espresso e publicava com a Bompiani, frequentava espaços como esse, onde o fervor das feiras se estendia às vitrines repletas de novidades literárias.

A Feltrinelli, com suas estantes de madeira polida e seções dedicadas à filosofia, semiótica e ficção, reflete o espírito de Eco. Aqui, ele poderia ter folheado edições de Apocalípticos e Integrados (1964), onde analisa a cultura de massa, ou de Tratado Geral de Semiótica (1975), que consolidou sua reputação acadêmica.

A livraria, com sua atmosfera acolhedora, convida a longas tardes de leitura, algo que Eco, com seu humor afiado, talvez descrevesse como “um labirinto de ideias onde o leitor se perde com prazer”.

Durante feiras, a Feltrinelli organiza eventos com autores, e é fácil imaginar Eco debatendo ali, com sua ironia característica, sobre o futuro do livro impresso, que defendia com veemência: “O livro é como uma colher, uma vez inventado, não muda jamais.”

Dica de viagem: Visite a Feltrinelli durante a Più Libri Più Liberi (geralmente em dezembro) para encontrar edições raras de Eco em italiano e participar de palestras com escritores contemporâneos. A livraria fica aberta até tarde, perfeita para um café enquanto você explora suas seções.

Libreria Fahrenheit 451: o refúgio dos bibliófilos em Campo de’ Fiori

No coração do boêmio Campo de’ Fiori, a Libreria Fahrenheit 451 é um tesouro para amantes de livros independentes. Pequena, mas repleta de personalidade, essa livraria é conhecida por sua curadoria cuidadosa, com foco em literatura, ensaios e edições artesanais.

Durante a Festa del Libro e della Lettura, evento literário que atrai leitores a Roma, a Fahrenheit 451 se transforma em um ponto de peregrinação para quem busca títulos únicos, algo que Eco, com sua paixão por livros raros, certamente apreciaria.

Eco, que escreveu Memória Vegetal (2010) sobre sua bibliofilia, via os livros como objetos vivos, capazes de carregar séculos de conhecimento. Na Fahrenheit 451, ele poderia ter se encantado com edições antigas de textos medievais, tema central de O Nome da Rosa, ou com ensaios sobre semiótica, sua área de expertise.

A livraria, com suas paredes cobertas de prateleiras e o aroma de papel envelhecido, evoca o mosteiro fictício de seu romance, onde uma biblioteca-labirinto guarda segredos perigosos.

Durante feiras, a loja promove sessões de autógrafos e debates, e Eco, que lotou eventos na Feira de Frankfurt, provavelmente se sentiria em casa aqui.

Dica de viagem: Passe pela Fahrenheit 451 ao entardecer, quando o Campo de’ Fiori ganha vida com seu mercado. Combine a visita com um lanche em uma das bancas próximas (evite as multidões turísticas!) e procure por edições de Vertigem das Listas (2009), onde Eco explora a obsessão humana por catalogar o mundo.

Libreria Gremese: a erudição no coração de Trastevere

No charmoso bairro de Trastevere, a Libreria Gremese é um marco para quem busca livros sobre arte, cinema e cultura. Especializada em publicações visuais, ela atrai um público culto, como Eco, que publicou História da Beleza (2004) e História da Feiúra (2007), ambos ricamente ilustrados.

Durante a Letterature – Festival Internazionale di Roma, realizado no verão na Basílica di Massenzio, a Gremese se destaca por oferecer títulos que dialogam com as temáticas do evento, como poesia, estética e narrativa.

Eco, que lecionou em Bolonha e colaborou com a editora Bompiani, tinha uma relação especial com livros que transcendiam o texto, incorporando imagens e símbolos.

A Gremese, com sua seleção de ensaios visuais, seria um lugar onde ele poderia passar horas, talvez revisitando ideias para O Pêndulo de Foucault (1988), que explora conspirações e símbolos históricos. A livraria, com seu ambiente intimista e mesas repletas de livros ilustrados, reflete a visão de Eco sobre a “obra aberta”, onde o leitor participa ativamente da interpretação.

No festival, a Gremese recebe autores e promove exposições, criando uma ponte entre o papel e o debate ao vivo, algo que Eco, com sua verve de colunista, adoraria.

Dica de viagem: Explore a Gremese após um passeio por Trastevere, parando para admirar a Basílica di Santa Maria. Se você estiver visitando na época do festival, verifique a programação para palestras ou exposições, e procure por História das Terras e Lugares Lendários (2013), um compêndio visual que complementa a estética de Eco.

O legado de Eco nas feiras literárias de Roma

As feiras literárias de Roma, como a Più Libri Più Liberi e a Letterature, são celebrações do livro como objeto e ideia, algo que Eco defendia com paixão. Em Não Contem com o Fim do Livro (2010), escrito com Jean-Claude Carrière, ele argumentou que o livro impresso é insubstituível, comparando-o a invenções perenes como a roda.

Nestas feiras, Roma se transforma em um labirinto de estandes, palestras e encontros, onde livrarias como as mencionadas ganham vida extra. Eco, que participava de eventos como a Feira de Frankfurt, provavelmente via em Roma um microcosmo de sua própria biblioteca: um espaço onde o conhecimento circula, mas permanece ancorado no papel.

Suas obras, como O Cemitério de Praga (2010) e Número Zero (2015), mostram sua habilidade de tecer ficção com crítica social, sempre com um olhar irônico sobre conspirações e o poder da mídia. Em Roma, ele poderia ter discutido esses temas em eventos literários, talvez na Nuvola, com sua arquitetura futurista, ou em livrarias como a Feltrinelli, onde leitores se reuniam para ouvir suas ideias.

Sua morte em 2016 deixou um vazio, mas sua biblioteca de 32 mil volumes, retratada no documentário Umberto Eco, La Biblioteca del Mondo, segue como testemunho de seu amor pelos livros.

Um convite ao leitor

Caminhar pelas livrarias de Roma durante feiras literárias é como seguir os passos de Umberto Eco: cada estante é um convite a decifrar o mundo, como ele fazia em seus romances e ensaios. Da Feltrinelli à Fahrenheit 451, da Gremese aos eventos da Più Libri Più Liberi, esses espaços são portais para a mente de um autor que via nos livros não apenas conhecimento, mas vida.

Pegue um exemplar de O Nome da Rosa, perca-se nas ruelas de Trastevere ou no burburinho do Campo de’ Fiori, e sinta o eco de Eco em cada página virada.

Dica final: Planeje sua visita a Roma durante a Più Libri Più Liberi (dezembro) ou a Letterature (junho-julho). Leve um caderno para anotações, como Eco faria, e mergulhe nas livrarias com a curiosidade de um semiólogo. Quais livros você encontrará que poderiam estar na biblioteca de Eco? Bom divertimento!

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